Para os suíços, água é sinônimo de consciência ambiental


"Pureza líquida

Toda criança de Zurique cresce sabendo que pode beber água de qualquer fonte da cidade. E se quiser nadar no principal lago e cartão postal da região? Também pode. Afinal, essa é a cidade em que água é sinônimo de vida e, também, de consciência ambiental


Ao abrir qualquer torneira em Zurique, o que sairá dela é uma mistura de 70% da água do Zurichsee (principal lago da cidade), 20% de água do subsolo e 10% de fontes naturais. A mistura é potável. Água cristalina, pronta para beber. Até o leite da mamadeira do bebê pode ser preparado com ela.

A água aqui é um grande orgulho, mas nem sempre foi assim. O turista que consegue ver, hoje, o fundo do Zurichsee, através de suas águas límpidas, não pode imaginar como era sua condição na década de 70. O lago era tão poluído, que a luz do sol não atravessava a escuridão, dez metros abaixo da superfície. Estudos apontaram a causa do problema: excesso de fosfato no lago. Grandes quantidades do sal estavam provocando o aparecimento de algas que poluiam a água.

O governo local fez um investimento financeiro gigantesco para limpar o lago. O trabalho de despoluição envolveu novas leis de proteção ambiental e a construção de modernas estações de tratamento de água. Um dos responsáveis pelo projeto foi o Eawag - Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia das Águas -, um dos mais importantes do mundo no setor. Mas não foi fácil. Foram necessários 30 anos para que o lago voltasse a ter a água com a mesma qualidade do passado. “Só no ano 2000, o Zurichsee voltou a ser o que era na década de 50”, revela Ulrich Bosshart, vice-diretor do Departamento de Águas de Zurique.

Hoje a cidade pulsa e vive ao redor do lago. No verão, é a praia local. Milhares de pessoas tomam banho no Zurichsee e há constantes eventos e competições sendo realizados lá. É possível beber a água do lago? Bosshart dá uma risada e responde. “Se você estiver nadando e tomar um pouco da água, não há problema nenhum”. Restaurantes, bares e shows ao ar livre são realizados no entorno do lago. Poucas metrópoles européias têm o privilégio de ter uma área pública como essa, bem no centro histórico, turístico e urbano da cidade, que pode ser tão aproveitado assim.

“A Suíça é privilegiada na sua localização. Está bem próxima de montanhas, o que garante um farto abastecimento de água natural”, afirma Bosshart. Somente o Zurichsee tem capacidade de 3,4 bilhões de m3 de água. Mas há ainda 280 fontes naturais na região. Entretanto, a qualidade da água, que abastece aproximadamente 800 mil pessoas na região metropolitana de Zurique, depende também de outros fatores. Quatro estações são responsáveis pela captação e tratamento da água subterrânea (Hardhof), do lago (Lengg e Moos) e de uma grande fonte natural (Sihlbrugg). Na sequência, a mistura percorre cerca de 1.550 km pela rede de tubulação de água para chegar em cada casa da cidade.

E como evitar a poluição desses mananciais naturais? Leis rígidas e fiscalização intensa. As indústrias são obrigadas a fazer um pré-tratamento dos resíduos antes de despejá-los na rede de esgoto. Para navegar no Zurichsee, os barcos devem ter motores de qualidade, não poluentes. Outra restrição curiosa. Na Suíça é proibido instalar trituradores nas pias (aparelho que pica restos de alimentos e os joga na rede de escoamento da água). “A adição desse lixo orgânico na rede de águas provoca o aparecimento de bactérias e aumenta muito o custo do tratamento”, explica Bosshart.

O lago de Zurique é monitorado constantemente. Seu uso pela população, principalmente durante os meses de calor, não afeta em nada a qualidade de sua água. “Percebemos a presença de substâncias provenientes de protetores solares, por exemplo, mas em quantidades tão pequenas, que não comprometem, em nada, o seu valor”.

Além de ter o privilégio de beber um copo de água que sai direto da pia, quem passa pelas ruas dessa cidade pode também saborear a água das 1.200 fontes. A maioria delas oferece a mesma mistura que chega até as casas. Entretanto, cerca de 400 fontes são abastecidas com água mineral. Nelas, a água vem direto da fonte subterrânea, pura e natural. Pensando sempre mais adiante, planejando o amanhã e não somente o presente, há na área metropolitana outras 80 fontes emergenciais. Caso haja algum problema no abastecimento de água, elas têm um sistema independente da rede local. E não é preciso preocupação com higiene. Pode parecer inacreditável, mas as fontes são lavadas diariamente.

Atualmente, tap water, ou seja, água da pia, está muito em voga. Estima-se que, para chegar até o consumidor, ela consome mil vezes menos energia do que uma garrafa de água mineral. A apreciação por esse recurso natural é tão grande, que recentemente foi lançado um novo souvenir oficial da cidade. É a garrafa ZH20, feita de aço inoxidável, com capacidade para 400 ml de água. Fresca e potável, obviamente proveniente das fontes de Zurique, é um incentivo para que turistas e moradores matem sua sede com uma água segura e barata, ao invés de gastar dinheiro com a mineral, que vem em embalagem de plástico, longe de ser ecologicamente correta. Melhor ainda é saber que, cada consumidor ao comprar a ZH20 ajuda um projeto para levar água potável e com baixo custo para as crianças da Tanzânia.

Será realmente maravilhoso se os suíços conseguirem exportar todo esse conhecimento em administrar os recursos hídricos para outros países, que ainda estão longe de viver uma realidade como a daqui."

Fonte: Por Suzana Camargo, de Zurique, Suíça - Planeta Sustentável

Um comentário:

Unknown disse...

gstoria de saber se posso beber agua da torneira? pois me falaram que tem muito cau