A incrível história…


"No Ecocentro onde Lilia Soares mora, até o banheiro é diferente . Pela dedicação ao meio ambiente, ela foi selecionada como “embaixadora do clima” do Brasil


Imagine um lugar onde as pessoas fazem suas próprias roupas, plantam o que comem tomam banho reutilizando a água da chuva . Parece cena de filme de ficção? Pois, para Laila Soares, são atividades comuns do dia-a-dia . A menina, de 17 anos nasceu, na Austrália e mudou-se com os pais para o Brasil quando tinha 3 anos. Hoje , mora numa espécie de vila megaecológica , chamada Ipec (Instituto de Permacultura Ecovilas do Cerrado), que fica em Pirenópolis (GO). “Vivemos de forma equilibrada com o meio ambiente, isso vai além de não jogar lixo na rua. Temos uma estrutura que permite a reposição de tudo o que usamos da natureza ”, diz . A preocupação com preservação ambiental e coisa de família: foi o pai de Laila que fundou o Ecocecentro, onde ela vive junto com cerca de 30 pessoas.

Tudo por lá e feito de maneira ecologicamente correta . A cozinha é coletiva e moradores e funcionários comem em um praça de alimentação ao ar livre . Junto com as casas, no Ecocentro há hortas, florestas e um sistema especial de reaproveitamento da água . “Só uso hidratantes, xampus cremes feitos aqui. Tenho um pedacinho de jardim só para mim, onde passo grande parte do dia plantando meus temperos e alimentos favoritos, conta Laila. Na comunidade, até os banheiros são diferentes. Eles ficam fora das casas, no lugar da descarga, joga-se serragem nos resíduos. Mais tarde , ele são aproveitados como adubo para o minhocário. “Minhas amigas acham estranho, mas, com o tempo, acabam entendendo a vida que levo. Elas nem jogam mais lixo na rua na minha frente porque sabem que vou dar bronca e encher o saco!

Até quando o assunto e escola, a rotina da Laila é incomum. Ela estuda por um sistema especial via internet. “Há alunos conectados de todos os lugares do mundo. O melhor e que posso estudar sentada no jardim, por exemplo.” A coisa só complica na hora das provas, quando um inspetor fica ao lado da garota de olho em tudo para que ela nem pense em colar.

Quando não esta estudando, Laila é responsável por várias tarefas na comunidade. Ela recepciona turistas que visitam o Ecocentro, participa de um programa que ajuda a construir escolas sustentáveis e cuida da parte das plantações. Mas a paixão pela preservação já impulsionou a garota ir muito além da comunidade.

No início deste ano, ela foi a única menina entre os três selecionados para representar o Brasil como embaixadora do clima na Conferência Internacional do Meio Ambiente , em Londres. Para conseguir a vaga, disputada por 600 jovens de todo mundo, ela fez vários testes e teve que comprovar fluência em inglês. Além de Laila , apenas 38 pessoas conseguiram passar.

O “novo cargo” modificou a vida da garota . Primeiro, ela criou um blog com dicas para ajudar outras pessoas a viver de forma sustentável. Depois, viajou para Londres, onde conheceu os outros embaixadores do clima. Lá, o grupo elaborou um documento com soluções para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no mundo. Esse documento tinha endereço certo: Kobe , no Japão, onde haveria outra conferência com ministros do meio ambiente dos 13 países.

Foram dois meses de espera até o dia do embarque. “ Quando cheguei ao Japão, fiquei chocada. Não dava para pedir informações nem ler nenhuma placa . Mas estava empolgada com o que aconteceria .” Era hora de fazer a diferença! O documento elaborado pelos embaixadores do clima finalmente chegaria a mãos importantes. “Pedimos a criação de eventos sobre vida sustentável e soluções para os problemas mais urgentes. Os ministros ficaram muito interessados e, sem dúvida, a conferência foi um sucesso.”

De volta , Laila retomou suas atividades no Ecocentro. Do Japão, além das histórias sobre o que viveu e das novas amizades, trouxe uma caixinha para guardar incenso. “Senti vontade de comprar uma câmera fotográfica , mas achei que não era hora . Não dou tanto valor para essas coisas como as outras meninas, afirma . E também reforçou a certeza de que precisa continuar lutando pela conscientização do mundo para preservar a natureza. “É muito legal saber que eu posso mostrar para as pessoas a importância de uma mudança . Precisamos começar a salvar nosso planeta o quanto antes”, diz."

Fonte: Por Karolina Ribeiro
Revista Capricho - 12/10/2008

E o ralo levou...

Preste atenção com o que você joga no ralo. Seja responsável. O planeta agradece.

"A infinidade de coisas jogadas nos ralos é um problema sério - e um dos maiores vilões é o fio dental

A falta de cuidados com o ambiente pode se voltar contra você. Essa afirmação pode parecer meio batida, mas é ainda mais verdadeira quando consideramos a infinidade de coisas que são jogadas no ralo das pias.

Tem gente que não pensa duas vezes antes de atirar no ralo cotonetes, restos de comida ou a poeira varrida da casa. Com o tempo, essas coisas se transformam em obstruções nos encanamentos que podem provocar graves entupimentos na rede de esgotos ou em casa.

No centro expandido de São Paulo, a Sabesp realiza cerca de 2 mil desentupimentos por mês. Isso acontece porque as redes de coleta e tratamento de esgoto têm tubulações mais estreitas que as galerias pluviais, nas ruas. Por isso, entopem com mais facilidade quando se acumulam restos de comida ou objetos no seu interior.

Um dos principais vilões que descem pelos ralos é o fio dental. Fabricado com materiais cada vez mais resistentes, seu acúmulo acaba formando uma rede que prende outros materiais, obstruindo as tubulações. O excesso de produtos químicos de limpeza é outro problema freqüente, pois pode prejudicar o próprio sistema de tratamento dos esgotos, tornando-o ineficiente.

Nos locais onde não há tratamento de esgoto o descarte inadequado de produtos pelo ralo costuma agredir diretamente o ambiente. Isso porque os dejetos acabam sendo lançados nos rios, córregos e no mar, na maioria das vezes causando mau cheiro e a morte de animais e plantas.

NO BANHEIRO
Aquele fio dental que displicentemente você deixa cair no ralo da pia vem se tornando um grave transtorno para os esgotos de todo o mundo. Eles acabam ficando presos na rede de tubulações, onde, acumulados, formam uma teia que prende outros tipos de lixo.

Resultado: entupimentos e transbordamentos na rua e dentro das casas, além de mais dificuldade para o tratamento dos resíduos. Outros produtos também costumam ser lançados no ralo ou no vaso sanitário. Entre eles estão fraldas descartáveis, absorventes, pontas de cigarro, cotonetes e preservativos.

E, por favor, retire os fios de cabelo dos ralos do chuveiro e da pia. Eles também são um verdadeiro enrosco.

NA COZINHA
De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), 1 litro de óleo é responsável pela poluição de 1 milhão de litros de água. A companhia estima que uma família gera 1,5 litro de óleo de cozinha por mês. Os sistemas de tratamento de esgotos não são projetados para cuidar do óleo, e sim da sujeira que deveria estar no esgoto.

O óleo volta aos rios, por ser mais leve, fica na superfície, impedindo a oxigenação das águas e causando a morte de microorganismos e peixes. O que fazer então com o óleo? Reserve o óleo em garrafas pet e, quando tiver acumulado alguns litros, entregue-o a centros de coleta, que depois o usarão para fazer sabão. Consulte a prefeitura ou a empresa de sanemento básico da sua cidade para saber se esse serviço está disponível.

NA ÁREA DE SERVIÇO
Pequenas peças de roupa, como meias ou lenços, acabam indo pelo ralo abaixo. Nesse caso, a solução é simples: colocar uma grade de proteção no ralo. Outro problema comum na área de serviço é o descarte de produtos tóxicos no tanque. O mais comum é a água sanitária, que deve ser usada sem abusos, pois tem grande potencial de poluir o ambiente.

Pode ser substituída na limpeza da casa por misturas com bicarbonato de sódio, vinagre e suco de limão. Produtos de limpeza devem ser utilizados de acordo com a indicação do fabricante, com o consumo de todo o conteúdo das embalagens, sem despejá-los diretamente na pia. O uso de venenos e inseticidas deve ser evitado.

NO QUINTAL
Aqui, uma complicação freqüente para os esgotos é a própria água da chuva. Algumas pessoas conectam a descarga das calhas à rede de esgotos, que, ao contrário da rede de águas pluviais, não está preparada para receber o excesso de água. O resultado é o transbordamento dos esgotos nas ruas e até mesmo o refluxo pelos ralos.

A sujeira varrida de toda a casa deve ser recolhida com uma pá e jogada no lixo. Não jogue a poeira no ralo, pois aí ela tende a se acumular na parte de baixo dos encanamentos, vindo a provocar entupimentos. Também deve-se evitar que folhas e galhos caiam nos ralos."

Fonte: Por André Mugiatti
Revista Superinteressante

Lixo

"O lixo é o grande desafio do futuro. Esqueça a arte, a ciência... Se o homem não aprender a dar conta de seus dejetos, afundará nesse mar de lama

Passei as festas de fim de ano em Fernando de Noronha, minha adorada ilha. Lá, por acaso, comemorei o Natal com uma família vinda de São Paulo, hospedada na mesma pousada que eu. O pai tinha um forte sotaque do interior do Paraná e nos disse, com um sorriso maroto, que era lixeiro. Ficamos curiosos e ele acabou contando sua saga. Nascido na roça paranaense, foi tentar a sorte em São Paulo há mais de trinta anos, com uma mão na frente e outra atrás. Depois de muitos bicos e sem nenhum futuro no horizonte, percebeu no ramo da carne uma possibilidade de sustento. Começou a vender jornal velho a preço de banana aos açougues da região. Na época, olha como isso é antigo, ainda se embrulhava carne com jornal e reciclar era um verbo que ninguém conjugava. O paranaense era um homem de visão. Depois da bem-sucedida experiência com o jornal velho, e acometido por uma forte compulsão, passou a olhar o lixo com olhos de cobiça. Cresceu e hoje domina o mercado de reciclagem de latas de alumínio em São Paulo.

— Mandei importar três máquinas. Dá vontade de chorar — disse ele. — Você vê entrar o lixo de um lado e sair ouro do outro, ouro!

Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores mundiais de alumínio, o país exporta tudo o que extrai do solo, nada fica aqui. Praticamente todo o alumínio consumido no país vem das ruas, da força geológica de formiguinhas humanas que sustentam empresas de pequeno, médio e grande porte. Atualmente, a família que passava férias em Noronha é abastecida por dezenas de cooperativas de coleta, homens e mulheres sem grandes perspectivas que encontram nas latinhas um mercado informal de sustento, exatamente como o herói desta crônica, há quarenta anos.

Todos eles trabalham no ramo, sorrindo de orelha a orelha, querendo seguir o faro do pai. A filha revende o papel usado do escritório nos bairros menos favorecidos da capital paulista. Os olhos do pai brilham quando fala da fortuna que é possível fazer com pneu, pilha, garrafas PET, restos de computador... Este é um novo negócio que o paranaense morre de pena de não ter mais idade para explorar: os incontáveis materiais preciosos contidos no lixo tecnológico dos celulares, bips e videogames. Ele falava em tecido de garrafa, de ouro, platina e cobre vindos de pilhas usadas, de asfalto de altíssimo nível retirado de pneus velhos. Ele me esclareceu a respeito do que pode render um aterro de lixo bem estruturado. Fiquei fascinada com aquele homem, um jeca-tatu visionário made in Brazil.

O lixo é o grande desafio do futuro. Esqueça a arte, a ciência... Se o homem não aprender a dar conta de seus dejetos, afundará nesse mar de lama. O antropólogo Jared Diamond, em seu livro Colapso, escreve sobre um amigo da República Dominicana que profetiza, diante de uma praia coberta de sujeira, que a humanidade vai ser soterrada pelo próprio lixo. Dizem que existem verdadeiros vortices de imundice levados pelas correntes no meio dos oceanos, lixões à deriva.

Saí de Noronha convencida de que deveria montar uma firma de reaproveitamento de lixo, querendo juntar pneu, explorar os metais das pilhas velhas. Desisti assim que botei o pé em casa e voltei para o que sei fazer. Mesmo assim, voltei diferente. Passei a separar o lixo com mais seriedade e a recusar os zilhões de sacolas de plástico que me oferecem cada vez que compro uma aspirina. Uso minha shopping bag com mais freqüência e me revolto com o tamanho das embalagens dos brinquedos dos meus filhos. São cinqüenta camadas de plástico duro, inviolável, que, conforme abrimos, se multiplicam em mil. No fim restam um brinquedinho e uma montanha de lixo ao lado.

Lembro do tempo em que eu admirava o excesso de invólucros dos supermercados americanos, a quantidade de isopor para embalar uma fruta, as cinqüenta sacolas para presentear um anel, uma prosperidade que hoje mais me parece ignorância. Já o paranaense, por mim, levava o Prêmio Nobel da Paz na Consciência. Ele merece."

Fonte: Por Fernanda Torres
Veja Rio

Nada se perde - Reciclagem inteligente

O lixo orgânico é um problema para a maioria das cidades brasileiras. Veja como é possível transformar o lixo orgânico em energias e produtos.

"Na Suíça, restos de comida e plantas são transformados em gás natural, eletricidade, combustível e fertilizantes. A esse processo é dado o nome de Reciclagem Verde

O que fazer com todo o lixo produzido por nós? Esse é um dos grandes dilemas enfrentados no mundo todo. Como sabemos, em muitos países – incluindo o Brasil – o lixo é desepejado em terrenos abertos - os chamados landfills ou lixões - e todos, simplesmente, esquecem o problema.

Por isso, a reciclagem é uma das grandes soluções encontradas nas últimas décadas. Mas há mais a se fazer. Pesquisas comprovam que cerca de 30% do lixo doméstico, produzido nas casas, pode ser reutilizado e a reciclagem desses resíduos pode ser realizada de uma maneira muito simples, usando, como exemplo, exatamente o que acontece na natureza, ou seja, a decomposição natural.
No caso do lixo orgânico, o processo de decomposição depende basicamente de umidade e calor. Restos de plantas e comida, deixados em lixões ao ar livre, se decompõem espontaneamente, após algum tempo.

Partindo desse princípio, há 20 anos, uma empresa suíça – a Kompogas - iniciou estudos com lixo orgânico, principalmente aquele proveniente de jardins e cozinhas. Hoje, ela é uma das quatro maiores empresas do mundo nesse setor e transforma o green waste (lixo dos jardins) e o biowaste (restos de verduras, frutas e alimentos) em novos produtos. Para isso, utiliza um reator de fermentação, que trabalha através de um processo anaeróbico (com ausência de oxigênio). “É um processo biológico, que ocorre também na natureza, só que, aqui, o processo acontece de forma controlada e intensiva”, afirma Peter Knecht, responsável pelas licenças internacionais da empresa.

Na Suíça, existem dez fábricas Kompogas em funcionamento, cinco somente na região de Zurique, a maior cidade do país. Elas recebem o lixo orgânico vindo de comunidades municipais, hotéis, supermercados e redes de lanchonetes. Afinal, todos esses clientes são responsáveis pelo destino do lixo produzido por eles. Para essas companhias e prefeituras fica mais barato reciclar o lixo orgânico do que simplesmente “jogá-lo no lixo”. Lá, os departamentos municipais de coleta só recolhem o lixo - seja domiciliar ou industrial - que estiver dentro dos sacos oficiais das cidades. Mas, para estimular a reciclagem, esses sacos são bastante caros. Para se desfazer de cerca de uma tonelada de lixo na maneira tradicional, na região de Zurique, por exemplo, uma empresa gastaria cerca de R$ 960. Mas, para ter esse mesmo lixo entregue e reciclado numa fábrica Kompogas, o custo é de R$ 240. “Não faz o menor sentido queimar o lixo orgânico. Cada tipo de lixo tem uma maneira apropriada para ser tratado”, diz Knecht.

Outra grande vantagem da reciclagem verde está na diminuição da emissão de gás CO2 na atmosfera, já que o método de incineração não consegue controlar a emissão desses gases. Para cada tonelada de lixo orgânico reciclado nas plantas da Kompogas, uma tonelada de CO2 deixa de ser emitida no meio ambiente. E o melhor: a fermentação é mais barata do que a incineração.

Mas como funciona uma fábrica desse tipo? O processo é bastante fácil de entender. Primeiro, os clientes entregam o lixo orgânico a ser reciclado. Os caminhões que o transportam chegam na planta e são pesados numa balança. Paga-se pelo peso – kg/tonelada – que será processado. Em seguida, os resíduos são despejados e passam por uma triagem visual e um detector de metais (imã). Caso haja pedras ou utensílios deixados por engano no meio desse lixo (tesouras de poda, pás, etc), eles são removidos para não danificar o reator. Na sequência, essa massa de lixo orgânico é triturada numa câmara intermediária até atingir a consistência ideal. O próximo passo passar o lixo pelo reator de fermentação. Ali, ele permanece durante duas semanas, a uma temperatura de 55º C. “A única diferença em relação ao que acontece na natureza é que adicionamos mais bactérias para acelerar a processo”, revela o executivo da Kompogas.

Da fermentação desses resíduos surgem três novos produtos:
- um sólido (o composto)
- um líquido (o fertilizante)
- e, por último, um gasoso (uma nova forma de energia limpa). Esta energia - ou gás - pode ser convertida em combustível para veículos, em gás natural para a rede local (se estiver disponível) ou então, no chamado CHP (combined heat and power), uma combinação de energia elétrica e aquecimento."

Fonte: Por Suzana Camargo
Planeta Sustentável

Para os suíços, água é sinônimo de consciência ambiental


"Pureza líquida

Toda criança de Zurique cresce sabendo que pode beber água de qualquer fonte da cidade. E se quiser nadar no principal lago e cartão postal da região? Também pode. Afinal, essa é a cidade em que água é sinônimo de vida e, também, de consciência ambiental


Ao abrir qualquer torneira em Zurique, o que sairá dela é uma mistura de 70% da água do Zurichsee (principal lago da cidade), 20% de água do subsolo e 10% de fontes naturais. A mistura é potável. Água cristalina, pronta para beber. Até o leite da mamadeira do bebê pode ser preparado com ela.

A água aqui é um grande orgulho, mas nem sempre foi assim. O turista que consegue ver, hoje, o fundo do Zurichsee, através de suas águas límpidas, não pode imaginar como era sua condição na década de 70. O lago era tão poluído, que a luz do sol não atravessava a escuridão, dez metros abaixo da superfície. Estudos apontaram a causa do problema: excesso de fosfato no lago. Grandes quantidades do sal estavam provocando o aparecimento de algas que poluiam a água.

O governo local fez um investimento financeiro gigantesco para limpar o lago. O trabalho de despoluição envolveu novas leis de proteção ambiental e a construção de modernas estações de tratamento de água. Um dos responsáveis pelo projeto foi o Eawag - Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia das Águas -, um dos mais importantes do mundo no setor. Mas não foi fácil. Foram necessários 30 anos para que o lago voltasse a ter a água com a mesma qualidade do passado. “Só no ano 2000, o Zurichsee voltou a ser o que era na década de 50”, revela Ulrich Bosshart, vice-diretor do Departamento de Águas de Zurique.

Hoje a cidade pulsa e vive ao redor do lago. No verão, é a praia local. Milhares de pessoas tomam banho no Zurichsee e há constantes eventos e competições sendo realizados lá. É possível beber a água do lago? Bosshart dá uma risada e responde. “Se você estiver nadando e tomar um pouco da água, não há problema nenhum”. Restaurantes, bares e shows ao ar livre são realizados no entorno do lago. Poucas metrópoles européias têm o privilégio de ter uma área pública como essa, bem no centro histórico, turístico e urbano da cidade, que pode ser tão aproveitado assim.

“A Suíça é privilegiada na sua localização. Está bem próxima de montanhas, o que garante um farto abastecimento de água natural”, afirma Bosshart. Somente o Zurichsee tem capacidade de 3,4 bilhões de m3 de água. Mas há ainda 280 fontes naturais na região. Entretanto, a qualidade da água, que abastece aproximadamente 800 mil pessoas na região metropolitana de Zurique, depende também de outros fatores. Quatro estações são responsáveis pela captação e tratamento da água subterrânea (Hardhof), do lago (Lengg e Moos) e de uma grande fonte natural (Sihlbrugg). Na sequência, a mistura percorre cerca de 1.550 km pela rede de tubulação de água para chegar em cada casa da cidade.

E como evitar a poluição desses mananciais naturais? Leis rígidas e fiscalização intensa. As indústrias são obrigadas a fazer um pré-tratamento dos resíduos antes de despejá-los na rede de esgoto. Para navegar no Zurichsee, os barcos devem ter motores de qualidade, não poluentes. Outra restrição curiosa. Na Suíça é proibido instalar trituradores nas pias (aparelho que pica restos de alimentos e os joga na rede de escoamento da água). “A adição desse lixo orgânico na rede de águas provoca o aparecimento de bactérias e aumenta muito o custo do tratamento”, explica Bosshart.

O lago de Zurique é monitorado constantemente. Seu uso pela população, principalmente durante os meses de calor, não afeta em nada a qualidade de sua água. “Percebemos a presença de substâncias provenientes de protetores solares, por exemplo, mas em quantidades tão pequenas, que não comprometem, em nada, o seu valor”.

Além de ter o privilégio de beber um copo de água que sai direto da pia, quem passa pelas ruas dessa cidade pode também saborear a água das 1.200 fontes. A maioria delas oferece a mesma mistura que chega até as casas. Entretanto, cerca de 400 fontes são abastecidas com água mineral. Nelas, a água vem direto da fonte subterrânea, pura e natural. Pensando sempre mais adiante, planejando o amanhã e não somente o presente, há na área metropolitana outras 80 fontes emergenciais. Caso haja algum problema no abastecimento de água, elas têm um sistema independente da rede local. E não é preciso preocupação com higiene. Pode parecer inacreditável, mas as fontes são lavadas diariamente.

Atualmente, tap water, ou seja, água da pia, está muito em voga. Estima-se que, para chegar até o consumidor, ela consome mil vezes menos energia do que uma garrafa de água mineral. A apreciação por esse recurso natural é tão grande, que recentemente foi lançado um novo souvenir oficial da cidade. É a garrafa ZH20, feita de aço inoxidável, com capacidade para 400 ml de água. Fresca e potável, obviamente proveniente das fontes de Zurique, é um incentivo para que turistas e moradores matem sua sede com uma água segura e barata, ao invés de gastar dinheiro com a mineral, que vem em embalagem de plástico, longe de ser ecologicamente correta. Melhor ainda é saber que, cada consumidor ao comprar a ZH20 ajuda um projeto para levar água potável e com baixo custo para as crianças da Tanzânia.

Será realmente maravilhoso se os suíços conseguirem exportar todo esse conhecimento em administrar os recursos hídricos para outros países, que ainda estão longe de viver uma realidade como a daqui."

Fonte: Por Suzana Camargo, de Zurique, Suíça - Planeta Sustentável

Este jeito de morar pensa no futuro


Para morar no BedZED, existe uma fila de espera

"Ecovila

Para quem tem carro flex, recicla o lixo e pondera sobre a efetiva necessidade de cada compra, o próximo passo pode ser mudar para uma ecovila. Este estilo de moradia já é uma realidade. Veja dois bons exemplos um condomínio em Londres e outro aqui, em Porto Alegre

Nada mais coerente em um mundo preocupado com o aquecimento global do que condomínios pensados desde a construção em causar menos impacto ao meio ambiente. No Reino Unido, o BedZED, ou Beddington Zero Energy Development (Empreendimento de Energia Zero), é o modelo líder em sustentabilidade urbana.

Desenvolvido pela maior incorporadora inglesa, a Peabody Trust, em conjunto com um grupo especialista em meio ambiente chamado BioRegional, o BedZED foi desenhado e concebido pelo arquiteto Bill Dunster. O sucesso é tanto que o grupo de arquitetos tem feito projetos para vários outros países, como China, Portugal e França. “Todos têm zero ou baixa emissão de carbono, mostrando ser rentável e moderno viver de forma ecológica em qualquer parte da Terra”, diz Erika Rees, do time de arquitetos.


Desde o começo, o empreendimento londrino foi feito como manda a cartilha da sustentabilidade: com material de construção comprado perto da área a ser erguida, uso de materiais reciclados e mão-de-obra local. “Não existe diferença entre esse projeto e uma casa normal. A não ser pela vontade de fazer assim”, frisa o próprio Bill Dunster.

Hoje, 220 pessoas vivem nas 100 unidades do condomínio, localizado em Sutton, a 20 minutos de trem de Londres. Inicialmente eram 82 apartamentos e os demais eram escritórios. A idéia de trabalhar ali, contudo, parece não ter sido tão aprovada no dia-a-dia e logo os escritórios se converteram em novas moradias, de um a quatro dormitórios. “Embora à primeira vista não se note muita diferença com relação às casas comuns, com um pouco mais de atenção, começamos a reparar nos detalhes que tornam única essa ecovila”, comenta Mathew Sullivan, o guia responsável por explicar os princípios do empreendimento aos incansáveis visitantes. Mais uma prova de que o interesse por moradias sustentáveis cresce.

O sistema está baseado em técnicas simples e comprovadas para minimizar o consumo de energia. A Inglaterra tem um inverno rigoroso e todas as casas pedem aquecimento, o que representa um alto consumo de energia e gastos mensais. Nesta vila, as casas foram construídas para se manter a 18 ºC. Os materiais usados na construção, principalmente nas paredes, conservam e liberam vagarosamente o calor. As paredes foram feitas com isolantes térmicos entre duas camadas de concreto. Outra forma de aquecimento vem do uso da casa. Forno, TV, pessoas – tudo libera uma quantidade de calor, que, em vez de ser desperdiçada, fica retida por um supersistema de isolamento.

No verão, basta abrir as janelas para o ar circular. E os grandes e coloridos ventiladores que se vêem nos telhados mantêm uma circulação inteligente (refrescam no verão e usam a pressão do vento para intensificar o aquecimento no inverno).
Com essas técnicas, o consumo de energia para aquecimento é somente 10% do que gasta uma casa normal. O que se usa vem de fontes renováveis, proporcionando energia “neutro-carbono”. Como? Dentro do condomínio, uma unidade abastecida por refugos de madeira forne ce a energia elétrica para todos os apartamentos. O calor desse processo gera água quente.

Falando em água, a coleta das chuvas utilizando os telhados é usada para a descarga nos banheiros. Essa medida e outras, como máquina de lavar roupa com baixo uso de água e sistemas de descarga reguláveis nos vasos sanitários, fazem com que a média de uso de água no BedZED seja de 60 litros por dia por pessoa. Para ter uma idéia da diferença, no Reino Unido o gasto médio por pessoa é de 150 litros.

RESUMO DAS VANTAGENS
Menos impacto ao meio ambiente, menores gastos de água, luz e gás. No condomínio londrino, há ainda outros atrativos. Um quarto das residências é subsidiado pelo governo britânico, fornecendo casa a quem não tem condições financeiras. Outro quarto delas é destinado ao que se chama de social workers, ou profissionais indispensáveis para uma boa comunidade, como professores, médicos, bombeiros etc. (eles conseguem preços bem mais acessíveis para as moradias).

A metade das residências, vale dizer, interessou pela possibilidade de um bom investimento, por se tratar de um conceito novo e promissor. Custaram em torno de 15% mais que a média da região. Um apartamento de dois quartos, por exemplo, sai por volta de 250 mil libras, ou 875 mil reais. (O mercado imobiliário inglês é um dos mais caros do mundo.) Nesse momento, não há unidade à venda, mas uma fila de pessoas em espera indica que, caso alguém deixe o local, a venda será imediata.

CLUBE DO CARRO
Atualmente, 49% dos moradores fazem uso da bicicleta como meio de transporte. O trem, um hábito cultural na Inglaterra, também é bastante utilizado. Há ainda sistemas de abastecimento elétrico para veículos e um Clube do Carro. O morador se inscreve e recebe um cartão. A partir daí, agenda o carro quando precisa (há estacionamentos em vários pontos da cidade), utiliza e devolve no estacionamento, pagando de acordo com o tempo de uso. Embora qualquer pessoa possa ser membro, os moradores do BedZED tiveram incentivo inicial para pagar uma anuidade mais barata.

Esse mundo particular só cresce. Os arquitetos já divulgam as casas pré-fabricadas dentro desse conceito. O Rural ZED, como foi batizado, permite comprar uma casa completa como se fosse um kit ZED a ser instalado em seu terreno. E estão prestes a serem lançados novos empreendimentos: o One Brighton, o Riverside One, com 750 residências, além de hotel, cafés, escritórios e lojas, e o One Gallions, com 260 apartamentos. Todos com a bandeira do zero carbono."

Fonte: Por Lufe Gomes, de Londres
Revista Bons Fluidos - 10/2008