Dois anos antes de o furacão Katrina devastar a cidade de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos, fortíssimas ondas de calor na Europa provocaram complicações cardiovasculares e respiratórias em grande parte da população, matando mais de 30 mil pessoas. Esses eventos, para citar apenas duas das maiores calamidades dos últimos tempos, vieram colocar mais lenha na fogueira das previsões sobre a saúde do planeta e de seus habitantes no médio e no longo prazo.
Para muitos especialistas, o desmatamento e o despejo diário de toneladas de gás carbônico na atmosfera estão por trás de catástrofes assim. Os mais céticos, no entanto, alegam que ainda é cedo para atribuí-las cem por cento à ação do homem.
O consenso é que furacões dependem de águas oceânicas mais quentes. Ora, nos últimos 35 anos, a temperatura do globo subiu 0,5 °C e dobrou o número de furacões que castigam a Terra. Coincidência ou não, o fato é que a saúde humana também sofre — e como! — quando o termômetro vai às alturas. "Aumentam os casos de derrame e proliferam os insetos transmissores de dengue, febre amarela, malária, cólera e leishmaniose", enumera Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Uma questão que põe cientistas em lados opostos é o elo entre o aquecimento global e o aumento dos rombos na camada de ozônio, aquela que protege a Terra dos efeitos nocivos dos raios ultravioleta. Maria Luisa Höfling-Lima, professora de oftalmologia da Unifesp, ressalta que, no caso da nossa saúde, ainda não há estudos que indiquem relação de causa e efeito desses problemas ambientais com os que acometem os olhos. "Mas evidências apontam para um maior número de casos de catarata e degeneração na retina por causa da exposição crescente à luz azul e à radiação ultravioleta", diz.
Já a pele indiscutivelmente sofre com as conseqüências de uma esburacada camada de ozônio. Quanto maior a incidência de raios UV, maior a vulnerabilidade a lesões que podem levar ao câncer. Entre 1999 e 2005, a Sociedade Brasileira de Dermatologia examinou 205 869 pessoas em todo o Brasil e diagnosticou 17 980 casos de vários tipos de tumor. Uma pena, porque muitos deles poderiam ser evitados com uma única providência: a exposição ao sol com proteção. Infelizmente, mais da metade desses pacientes admitiu que não tomava esse cuidado tão simples. Não à toa, a estimativa do Instituto Nacional de Câncer, o Inca, é que este ano haverá no Brasil 115 010 novos casos do tipo não-melanoma e 5 920 de sua versão mais grave, o melanoma.
No geral, as perspectivas podem parecer sombrias, mas nem por isso devemos cruzar os braços e esperar passivamente pelo pior. Há tempo para ações capazes de brecar tantos prejuízos. O que fazer? Para o nefrologista Bento Cardoso dos Santos, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, "tão importante quanto se preparar para o que poderá vir é voltar a atenção para o que já está acontecendo e mudar alguns hábitos". Usar filtro solar, por exemplo.
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO (AINDA)
Exija dos governantes a criação de leis que obriguem à redução da emissão de poluentes Pelas fábricas.
- Prefira consumir produtos de empresas comprometidas com uma atmosfera livre de poluentes.
- Cobre investimentos em fontes de energia mais limpa.
- Deixe o carro em casa e prefira o transporte coletivo (ou pedale, em prol também da sua saúde).
- Abandone definitivamente o cigarro — as partículas da fumaça, além de péssimas para
o seu organismo, contribuem para a emissão de gás carbônico.
- Apóie medidas para barrar o desmatamento. As florestas ajudam a manter o equilíbrio
térmico do planeta, fundamental para prevenir o efeito estufa. E, quando for comprar móveis de
madeira, dê preferência àqueles que trazem o selo de manejo sustentável — ele garante a
procedência e os cuidados na extração da matéria-prima.
EXCESSO DE GÁS CARBÔNICO
O acúmulo desse gás, você já deve saber, impede que parte dos raios solares retorne para o espaço. É o efeito estufa. A mesma alta concentração de gases na atmosfera, como o carbônico, agrava a asma e outras doenças respiratórias. E, à medida que o calor aumenta, até as plantas têm seu desenvolvimento alterado. O resultado é uma maior liberação de pólen — capaz de defl agrar a inflamação no revestimento interno do nariz, a popular rinite. "Esse e outros males alérgicos deverão ser mais incidentes nesse calorão sem fim", alerta o
pneumologista Ciro Kirchenchtejn, da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. Quando tudo se complica, além da asma, podem surgir sinusite, amigdalite, otite e aumento das adenóides.
QUASE UM DILÚVIO
Se um dia de chuva forte provoca alagamentos, imagine, então, as conseqüências de tempestades freqüentes e duradouras. E nem vamos falar aqui de prejuízos econômicos em zonas urbanas e rurais. Muito além de desabamentos e perda de lavouras, que, óbvio, afetaria a produção de alimentos, é praticamente líquida e certa a ocorrência de males tão diversos quanto leptospirose, febre tifóide e doenças diarréicas agudas — grande parte deles provocada pelo contato com água contaminada pela urina de animais, como ratos. E o cenário ganha contornos mais trágicos se acrescentarmos outra possibilidade de encrenca nada remota no aguaceiro: o aumento de doenças provocadas por vírus e bactérias.
ONDAS DE CALOR INTENSO
Essa é uma das principais conseqüências do efeito estufa. Quando a temperatura sobe, o corpo abre alas para problemas cardiovasculares como o derrame, ao menos em pessoas já propensas. Sem contar que as bactérias se disseminam com muito mais facilidade. Pior ainda será a vida das opulações sem acesso a água potável — haverá aumento da incidência de intoxicações alimentares, diarréias e desidratação. Em geral, estima-se que a mortalidade
suba 1,6% a cada grau centígrado acima do nível de conforto térmico no verão.
PROBLEMAS GLOBALIZADOS
Imagine insetos e bactérias transmissores de doenças entrando num avião na África, na Índia ou mesmo no Brasil e, poucas horas depois, desembarcando numa cidade do hemisfério norte, onde os antes freqüentes dias de temperatura negativa estão cada vez mais raros. O clima alterado por si só já favorece a proliferação desses intrusos. O nefrologista Bento Cardoso dos Santos, do Albert Einstein, prevê o crescimento de doenças como dengue,
malária e febre amarela, típicas dos trópicos, naquelas plagas. "Já há registros de malária nos Estados Unidos", justifi ca. Seu prognóstico se baseia num projeto de que participa, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, no interior paulista. Nele, a idéia é relacionar as causas de internação no estado de São Paulo com os fenômenos climáticos, como pressão atmosférica, incidência de chuvas e variação de temperatura.
EFEITOS NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
Além das áreas semi-áridas, como o Nordeste brasileiro e tantas regiões africanas, que já sofrem com a falta de água, aquelas que hoje dependem do degelo sazonal das geleiras
também poderão penar. É o caso de localidades nos países cortados pela Cordilheira dos Andes, na América do Sul, que não vão mais contar com a água que escorre das montanhas geladas. "A produção de alimentos será prejudicada e crescerão os casos de desnutrição, distúrbios gastrintestinais, prejuízos ao sistema imunológico e, conseqüentemente, doenças como o câncer", sentencia, sem dó nem piedade, a toxicologista Silvana Turci, do Instituto Nacional de Câncer, no Rio de Janeiro.
Dois anos antes de o furacão Katrina devastar a cidade de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos, fortíssimas ondas de calor na Europa provocaram complicações cardiovasculares e respiratórias em grande parte da população, matando mais de 30 mil pessoas. Esses eventos, para citar apenas duas das maiores calamidades dos últimos tempos, vieram colocar mais lenha na fogueira das previsões sobre a saúde do planeta e de seus habitantes no médio e no longo prazo. Para muitos especialistas, o desmatamento e o despejo diário de toneladas de gás carbônico na atmosfera estão por trás de catástrofes assim. Os mais céticos, no entanto, alegam que ainda é cedo para atribuí-las cem por cento à ação do homem.
O consenso é que furacões dependem de águas oceânicas mais quentes. Ora, nos últimos 35 anos, a temperatura do globo subiu 0,5 °C e dobrou o número de furacões que castigam a Terra. Coincidência ou não, o fato é que a saúde humana também sofre — e como! — quando o termômetro vai às alturas. "Aumentam os casos de derrame e proliferam os insetos transmissores de dengue, febre amarela, malária, cólera e leishmaniose", enumera Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Uma questão que põe cientistas em lados opostos é o elo entre o aquecimento global e o aumento dos rombos na camada de ozônio, aquela que protege a Terra dos efeitos nocivos dos raios ultravioleta. Maria Luisa Höfling-Lima, professora de oftalmologia da Unifesp, ressalta que, no caso da nossa saúde, ainda não há estudos que indiquem relação de causa e efeito desses problemas ambientais com os que acometem os olhos. "Mas evidências apontam para um maior número de casos de catarata e degeneração na retina por causa da exposição crescente à luz azul e à radiação ultravioleta", diz.
Já a pele indiscutivelmente sofre com as conseqüências de uma esburacada camada de ozônio. Quanto maior a incidência de raios UV, maior a vulnerabilidade a lesões que podem levar ao câncer. Entre 1999 e 2005, a Sociedade Brasileira de Dermatologia examinou 205 869 pessoas em todo o Brasil e diagnosticou 17 980 casos de vários tipos de tumor. Uma pena, porque muitos deles poderiam ser evitados com uma única providência: a exposição ao sol com proteção. Infelizmente, mais da metade desses pacientes admitiu que não tomava esse cuidado tão simples. Não à toa, a estimativa do Instituto Nacional de Câncer, o Inca, é que este ano haverá no Brasil 115 010 novos casos do tipo não-melanoma e 5 920 de sua versão mais grave, o melanoma.
No geral, as perspectivas podem parecer sombrias, mas nem por isso devemos cruzar os braços e esperar passivamente pelo pior. Há tempo para ações capazes de brecar tantos prejuízos. O que fazer? Para o nefrologista Bento Cardoso dos Santos, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, "tão importante quanto se preparar para o que poderá vir é voltar a atenção para o que já está acontecendo e mudar alguns hábitos". Usar filtro solar, por exemplo.
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO (AINDA)
Exija dos governantes a criação de leis que obriguem à redução da emissão de poluentes Pelas fábricas.
- Prefira consumir produtos de empresas comprometidas com uma atmosfera livre de poluentes.
- Cobre investimentos em fontes de energia mais limpa.
- Deixe o carro em casa e prefira o transporte coletivo (ou pedale, em prol também da sua saúde).
- Abandone definitivamente o cigarro — as partículas da fumaça, além de péssimas para o seu organismo, contribuem para a emissão de gás carbônico.
- Apóie medidas para barrar o desmatamento. As florestas ajudam a manter o equilíbrio térmico do planeta, fundamental para prevenir o efeito estufa. E, quando for comprar móveis de madeira, dê preferência àqueles que trazem o selo de manejo sustentável — ele garante a procedência e os cuidados na extração da matéria-prima."
Fonte: Planeta Sustentável
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